Salamaleiko

bem vindo ao blog de contos, crônicas, poesias e manifestações artísticas do Poeta Vagabundo, este não é um blog diário, alguns textos são longos, requerem maior paciência do leitor, e para aqueles que acham os intervalos das postagens demasiado longo, rogo lhes que investiguem as postagens mais antigas, pois este blog tem conteúdo para um livro. e o Roco sempre contribui com suas telas.
agradeço pelo calor dos comentários, eles me dão força para continuar...
grande beijo do Poeta vagabundo.




Ps I: conteúdo registrado na biblioteca nacional

PsII: fiquem a vontade para críticas e comentários....dúvidas poderão ser respondidas...ou não...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Luz p'ro meu caminho

atravessei o deserto do mar
a procura de porto seguro
me perdi, fui procurar
uma estrela guia que me mostrasse
uma direção, um lugar seguro
e bom para ficar

o meio do caminho
a virtude, o vício
a cruz, a espada
tormentas, tempestades
ilhas de curiosidades

calmaria vem me acalmar
vento sereno, vem me conduzir
vem tu, Sereno, p'ra me orientar
luz a me guiar, no escuro azul do mar

por não conhecer, naveguei por mares de ilusão
naufraguei no coral da desobediência
vi lá longe a estrela da razão

e agora navego, sigo uma estrela
um ponto claro lá no norte

um guia a me nortear

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

jean

vou chorar
agora que estou sozinho
sem testemunhas
ninguém acreditará
que nesta laje
vi a noite cair

a tempestade vem com a noite
escurecendo o horizonte
te vi partir,
mas você acabou de chegar

estrela cadente, riscou meu céu

bate um vazio,
não vejo nada
e essa chuva salgada
lavou meu rosto inteiro

agora ando escrevendo palavras
sussurradas baixinho em meu ouvido
será pura alucinação
ou será um anjo a me consolar?

Não quero razões,
eu não preciso disso
se amar é sentir pena
não quero amar
e nem quero que ninguém me ame

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

a ultima pergunta

adoraria ter escrito este conto.....





A Última Pergunta (por Isaac Asimov)



“A última pergunta foi feita pela primeira vez, meio que de brincadeira, no dia 21 de maio de 2061, quando a humanidade dava seus primeiros passos em direção à luz. A questão nasceu como resultado de uma aposta de cinco dólares movida a álcool, e aconteceu da seguinte forma:
Alexander Adell e Bertram Lupov eram dois dos fiéis assistentes do Multivac. Assim como qualquer ser humano podeira, eles sabiam o que se passava por detrás da carcaça (milhas e milhas de carcaça) luminosa, fria e ruidosa daquele gigantesco computador. Mesmo assim, os dois homens tinham apenas uma vaga noção do plano geral de circuitos que há muito haviam crescido além do ponto em que um simples humano poderia sequer tentar entender como um todo.
O Multivac ajustava-se e corrigia-se sozinho. E assim tinha de ser, pois nenhum ser humano poderia fazê-lo com velocidade suficiente, e tampouco da forma adequada. Deste modo, Adell e Lupov operavam o gigante apenas sutil e superficialmente, mas, ainda assim, tão bem quanto era humanamente possível. Eles o alimentavam com novos dados, ajustavam as perguntas de acordo com as necessidades do sistema e traduziam as respostas que lhes eram fornecidas. Os dois, assim como seus colegas, certamente tinham todo o direito de compartilhar da glória que era o Multivac.
Por décadas, o Multivac ajudou a projetar as naves e a traçar as rotas que permitiram ao homem chegar à Lua, Marte e Vênus, mas para além destes planetas, os parcos recursos da Terra não foram capazes de sustentar a exploração. Fazia-se necessária uma quantidade de energia grande demais para as longas viagens. A Terra explorava suas reservas de carvão e urânio com eficiência crescente, mas havia um limite para a quantidade de ambos.
No entanto, lentamente o Multivac acumulou conhecimento suficiente para responder questões mais profundas com maior fundamentação, e em 14 de maio de 2061, o que não passava de teoria tornou-se real.
A energia do sol foi capturada, convertida e utilizada diretamente em escala planetária. Toda a Terra paralisou suas usinas de carvão e fissões de urânio, girando a alavanca que conectou o planeta inteiro a uma pequena estação, de uma milha de diâmetro, orbitando a Terra à metade da distância da Lua. O mundo passou a correr através de feixes invisíveis de energia solar.
Sete dias não foram o suficiente para diminuir a glória do feito e Adell e Lupov finalmente conseguiram escapar das funções públicas e encontrar-se em segredo onde ninguém pensaria em procurá-los, nas câmaras desertas subterrâneas onde se encontravam as porções do esplendoroso corpo enterrado do Multivac. Subutilizado, descansando e processando informações com estalos preguiçosos, Multivac também havia recebido férias, e os dois apreciavam isso. A princípio, eles não tinham a intenção de incomodá-lo.
Haviam trazido uma garrafa consigo e a única preocupação de ambos era relaxar na companhia um do outro e da bebida.
“É incrível quando você pára pra pensar,” disse Adell. Seu rosto largo guardava as linhas da idade e ele agitava o seu drink vagarosamente, enquanto observava os cubos de gelo nadando desengonçados. “… toda a energia que for necessária, de graça, completamente de graça! Energia suficiente, se nós quiséssemos, para derreter toda a Terra em uma grande gota de ferro líquido, e ainda assim não sentiríamos falta da energia utilizada no processo. Toda a energia que nós poderíamos um dia precisar, para sempre e eternamente.”
Lupov movimentou a cabeça para os lados. Ele costumava fazer isso quando queria contrariar, e agora ele queria, em parte porque havia tido de carregar o gelo e os copos. “Eternamente, não.” ele disse.
“Ah, diabos, quase eternamente. Até o sol se apagar, Bert.”
“Isso não é eternamente.”
“Está bem. Bilhões e bilhões de anos. Dez bilhões, talvez. Está satisfeito?”
Lupov passou os dedos por entre seus finos fios de cabelo como que para se assegurar de que o problema ainda não estava acabado e tomou um gole gentil da sua bebida. “Dez bilhões de anos não é a eternidade.”
“Bom, vai durar pelo nosso tempo, não vai?”
“O carvão e o urânio também iriam.”
“Está certo, mas agora nós podemos ligar cada nave individual na Estação Solar, e elas podem ir a Plutão e voltar um milhão de vezes sem nunca nos preocuparmos com o combustível. Você não conseguiria fazer isso com carvão e urânio. Se não acredita em mim, pergunte ao Multivac.”
“Não preciso perguntar a Multivac. Eu sei disso”
“Então trate de parar de diminuir o que Multivac fez por nós.” disse Adell nervosamente. “Ele fez tudo certo”.
“E quem disse que não fez? O que estou dizendo é que o sol não vai durar para sempre. Isso é tudo que estou dizendo. Nós estamos seguros por dez bilhões de anos, mas e depois?” Lupov apontou um dedo levemente trêmulo para o companheiro. “E não venha me dizer que nós iremos trocar de sol!”
Houve um breve silêncio. Adell levou o copo aos lábios e os olhos de Lupov se fecharam. Descansaram um pouco, e quando suas pálpebras se abriram, disse, “Você está pensando que iremos conseguir outro sol quando o nosso estiver acabado, não está?”
“Não, não estou pensando.”
“É claro que está. Você é fraco em lógica, esse é o seu problema. É como o personagem da história, que, quando surpreendido por uma chuva, corre para um grupo de árvores e abriga-se embaixo de uma. Ele não se preocupa porque quando uma árvore fica molhada demais, simplesmente vai para baixo de outra.”
“Entendi,” disse Adell. “Não precisa gritar. Quando o sol se for, as outras estrelas também terão se acabado.”
“Pode estar certo que sim.” murmurou Lupov. “Tudo teve início na explosão cósmica original, o que quer que tenha sido, e tudo terá um fim quando as estrelas se apagarem. Algumas se apagam mais rápido que as outras. Ora, as gigantes não duram cem milhões de anos. O sol irá brilhar por dez bilhões de anos e talvez as anãs permaneçam assim por duzentos bilhões. Mas nos dê um trilhão de anos e só restará a escuridão. A entropia deve aumentar ao seu máximo, e é tudo.”
“Eu sei tudo sobre a entropia,” disse Adell, mantendo a sua dignidade.
“Duvido que saiba.”
“Eu sei tanto quanto você.”
“Então você sabe que um dia tudo terá um fim.”
“Está certo. E quem disse que não terá?”
“Você disse, seu tonto. Você disse que nós tínhamos toda a energia de que precisávamos, para sempre. Você disse “para sempre”.”
Era a vez de Adell contrariar. “Talvez nós possamos reconstruir as coisas de volta um dia,” ele disse.
“Nunca.”
“Por que não? Algum dia.”
“Nunca.”
“Pergunte ao Multivac.”
“Você pergunta ao Multivac. Eu te desafio; aposto cinco dólares que isso não pode ser feito.”
Adell estava bêbado o bastante para tentar, e sóbrio o suficiente para construir uma sentença com os símbolos e as operações necessárias em uma questão que, em palavras, corresponderia a esta: a humanidade poderá um dia sem nenhuma energia disponível ser capaz de reconstituir o sol à sua juventude mesmo depois de sua morte? Ou talvez a pergunta possa ser posta de forma mais simples da seguinte maneira: A quantidade total de entropia no universo pode ser revertida?
O Multivac mergulhou em silêncio; as luzes brilhantes cessaram, os estalos distantes pararam. Então, quando os técnicos assustados já não conseguiam mais segurar a respiração, houve uma súbita volta à vida no visor integrado àquela porção do Multivac. Cinco palavras foram impressas: “DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”
Na manhã seguinte, os dois, com dor de cabeça e a boca seca, já não lembravam do incidente.
* * *
Jerrodd, Jerrodine, e Jerrodette I e II observavam a paisagem estelar no visor se transformar enquanto a passagem pelo hiperespaço consumava-se em uma fração de segundos. De repente, a presença fulgurante das estrelas deu lugar a um disco solitário e brilhante, semelhante a uma peça de mármore centralizada no televisor.
“Este é X-23.” disse Jerrodd em tom de confidência. Suas mãos finas se apertaram com força por trás das costas até que as juntas ficassem pálidas.
As pequenas Jerodettes haviam experimentado uma passagem pelo hiperespaço pela primeira vez em suas vidas e ainda estavam conscientes da sensação momentânea de tontura. Elas cessaram as risadas e começaram a correr em volta da mãe, gritando: “Nós chegamos em X-23, nós chegamos em X-23!”
“Quietas, crianças.” disse Jerrodine asperamente. “Você tem certeza Jerrodd?”
“O que está aí para se ter além da certeza?” perguntou Jerrodd, observando a protuberância metálica que jazia abaixo do teto. Ela tinha o comprimento da sala, desaparecendo nos dois lados da parede, e, na verdade, era tão longa quanto a nave.
Jerrodd tinha conhecimentos muito limitados acerca do sólido tubo de metal. Sabia, por exemplo, que se chamava Microvac, que era permitido lhe fazer questões quando necessário, e que ele tinha a função de guiar a nave para um destino pré-estabelecido, além de abastecer-se com a energia das várias Estações Sub-Galácticas e fazer os cálculos para os saltos no hiperespaço.
Jerrodd e sua família tinham apenas de aguardar e viver nos confortáveis compartimentos da nave. Alguém um dia disse a Jerrodd que as letras “ac” na extremidade de Microvac significavam “análogo computador” em inglês arcaico, mas ele estava próximo de esquecer até isso.
Os olhos de Jerrodine ficaram úmidos quando ela observava o visor. “Não tem jeito. Ainda não me acostumei com a idéia de deixar a Terra.”
“Por que, meu deus?” inquiriu Jerrodd. “Nós não tínhamos nada lá. Nós teremos tudo em X-23. Você não estará sozinha. Você não será uma pioneira. Há mais de um milhão de pessoas no planeta. Por Deus, nosso bisneto terá que procurar por novos mundos porque X-23 já estará super-lotado.” E, depois de uma pausa reflexiva, “No ritmo em que a raça humana tem se expandido, é uma benção que os computadores tenham viabilizado a viagem interestelar.”
“Eu sei, eu sei”, disse Jerrodine com descaso.
Jerrodete I disse prontamente: “Nosso Microvac é o melhor de todos.”
“Eu também acho,” disse Jerrodd, alisando o cabelo da filha.
Ter um Microvac próprio produzia uma sensação aconchegante em Jerrodd e o deixava feliz por fazer parte daquela geração e não de outra. Na juventude de seu pai, os únicos computadores haviam sido máquinas monstruosas, ocupando centenas de milhas quadradas, e cada planeta abrigava apenas um. Eram chamados de ACs Planetários. Durante milhares de anos, eles só aumentaram de tamanho, até que, de súbito, veio o refinamento. No lugar dos transistores, foram implementadas válvulas moleculares, permitindo que até mesmo o maior dos ACs Planetários fosse reduzido à metade do volume de uma espaçonave.
Jerrodd sentiu-se elevado, como sempre acontecia quando pensava que seu Microvac pessoal era muitas vezes mais complexo do que o antigo e primitivo Multivac que pela primeira vez domou o sol, e quase tão complexo quanto o AC Planetário da Terra, o maior de todos, quando este solucionou o problema da viagem hiperespacial e tornou possível ao homem chegar às outras estrelas.
“Tantas estrelas, tantos planetas,” pigarreou Jerrodine, ocupada com seus pensamentos. “Eu acho que as famílias estarão sempre à procura de novos mundos, como nós estamos agora.”
“Não para sempre,” disse Jerrodd, com um sorriso. “A migração vai terminar um dia, mas não antes de bilhões de anos. Muitos bilhões. Até as estrelas têm um fim, você sabe. A entropia precisa aumentar.”
“O que é entropia, papai?” Jerrodette II perguntou, interessada.
“Entropia, meu bem, é uma palavra para o nível de desgaste do Universo. Tudo se gasta e acaba, foi assim que aconteceu com o seu robozinho de controle remoto, lembra?”
“Você não pode colocar pilhas novas, como no meu robô?”
“As estrelas são as pilhas do universo, querida. Uma vez que elas estiverem acabadas, não haverá mais pilhas.”
Jerrodette I se prontificou a responder. “Não deixe, papai. Não deixe que as estrelas se apaguem.”
“Olha o que você fez,” sussurrou Jerrodine, exasperada.
“Como eu ia saber que elas ficariam assustadas?” Jerrodd sussurrou de volta.
“Pergunte ao Microvac,” propôs Jerrodette I. “Pergunte a ele como acender as estrelas novamente.”
“Vá em frente,” disse Jerrodine. “… ele vai aquietá-las.” (Jerrodette II já estava começando a chorar)
Jerrodd se mostrou incomodado. “Bem, bem, meus anjinhos, vou perguntar ao Microvac. Não se preocupem, ele vai nos ajudar.”
Ele fez a pergunta ao computador, adicionando “imprima a resposta”.
Jerrodd olhou para a o fino pedaço de papel e disse, alegremente: “Viram? Microvac disse que irá cuidar de tudo quando a hora chegar, então não há porque se preocupar.”
Jerrodine disse: “E agora crianças, é hora de ir para a cama. Em breve nós estaremos em nosso novo lar.”
Jerrodd leu as palavras no papel mais uma vez antes de destruí-lo: “DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”
Ele deu de ombros e olhou para o televisor, X-23 estava logo à frente.
* * *
VJ-23X de Lameth fixou os olhos nos espaços negros do mapa tridimensional em pequena escala da Galáxia e disse: “Me pergunto se não é ridículo nos preocuparmos tanto com esta questão.”
MQ-17J de Nicron balançou a cabeça. “Creio que não. No presente ritmo de expansão, você sabe que a galáxia estará completamente tomada dentro de cinco anos.”
Ambos pareciam estar nos seus vinte anos, ambos eram altos e tinham corpos perfeitos.
“Ainda assim,” disse VJ-23X, “… hesitei em enviar um relatório pessimista ao Conselho Galáctico.”
“Eu não consigo pensar em outro tipo de relatório. Agite-os; ós precisamos chacoalhá-los um pouco.”
VJ-23X suspirou. “O espaço é infinito. Cem bilhões de galáxias estão a nossa espera. Talvez mais.”
“Cem bilhões não é o infinito, e está ficando menos ainda a cada segundo. Pense! Há vinte mil anos, a humanidade solucionou pela primeira vez o paradigma da utilização da energia solar, e, poucos séculos depois, a viagem interestelar tornou-se viável. A humanidade demorou um milhão de anos para encher um mundo pequeno e, depois disso, quinze mil para abarrotar o resto da galáxia. Agora a população dobra a cada dez anos.”
VJ-23X interrompeu. “Devemos agradecer à imortalidade por isso.”
“Muito bem. A imortalidade existe e nós devemos levá-la em conta. Admito que ela tenha o seu lado negativo. O AC Galáctico já solucionou muitos problemas, mas, ao fornecer a resposta sobre como impedir o envelhecimento e a morte, sobrepujou todas as outras conquistas.”
“No entanto, suponho que você não gostaria de abandonar a vida.”
“Nem um pouco.” Respondeu MQ-17J, emendando. “Ainda não. Eu não estou velho o bastante. Você tem quantos anos?”
“Duzentos e vinte e três, e você?”
“Ainda não cheguei aos duzentos. Mas, voltando à questão; a população dobra a cada dez anos, uma vez que esta galáxia estiver lotada, haverá uma outra cheia dentro de dez anos. Mais dez e teremos ocupado por inteiro mais duas galáxias. Outra década e encheremos mais quatro. Em cem anos, contaremos mais de mil galáxias transbordando de gente. Em mil anos, milhões de galáxias. Em dez mil, todo o universo conhecido. E depois?”
VJ-23X disse: “Além disso, há um problema de transporte. Eu me pergunto quantas unidades de energia solar serão necessárias para movimentar as populações de uma galáxia para outra.”
“Boa questão. No presente momento, a humanidade consome duas unidades de energia solar por ano, da qual a maior parte é desperdiçada. Afinal, nossa galáxia sozinha produz mil unidades de energia solar por ano e nós aproveitamos apenas duas.”
“Certo, mas mesmo com 100% de eficiência, podemos apenas adiar o fim. Nossa demanda energética tem crescido em progressão geométrica, de maneira ainda mais acelerada do que a população. Ficaremos sem energia antes mesmo que nos faltem galáxias. É uma boa questão. De fato uma ótima questão.”
“Nós precisaremos construir novas estrelas a partir do gás interestelar.”
“Ou a partir do calor dissipado?” perguntou MQ-17J, sarcástico.
“Pode haver algum jeito de reverter a entropia. Nós devíamos perguntar ao AC Galáctico.”
VJ-23X não estava realmente falando sério, mas MQ-17J retirou o seu comunicador AC do bolso e colocou na mesa diante dele.
“Parece-me uma boa idéia.” ele disse. “É algo que a raça humana terá de enfrentar um dia.”
Ele lançou um olhar sóbrio para o seu pequeno comunicador AC. Tinha apenas duas polegadas cúbicas e nada dentro, mas estava conectado através do hiperespaço com o poderoso AC Galáctico que servia a toda a humanidade. O próprio hiperespaço era parte integral do AC Galáctico.
MQ-17J fez uma pausa para pensar se algum dia em sua vida imortal teria a chance de ver o AC Galáctico. A máquina habitava um mundo dedicado, onde uma rede de raios de força emaranhados alimentava a matéria dentro da qual ondas de submésons haviam tomado o lugar das velhas e desajeitadas válvulas moleculares. Ainda assim, apesar de seus componentes etéreos, o AC Galáctico possuía mais de mil pés de comprimento.
De súbito, MQ-17J perguntou para o seu Comunicador-AC, “Poderá um dia a entropia ser revertida?”
VJ-23X disse, surpreso: “Oh, eu não queria que você realmente fizesse essa pergunta.”
“Por que não?”
“Nós dois sabemos que a entropia não pode ser revertida. Você não pode construir uma árvore de volta a partir de fumaça e cinzas.”
“Existem árvores no seu mundo?” Perguntou MQ-17J.
O som do AC Galáctico fez com que silenciassem. Sua voz brotou melodiosa e bela do pequeno comunicador AC em cima da mesa. Dizia: “DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”
VJ-23X disse, “Viu?”
Os dois homens retornaram à questão do relatório que tinham de apresentar ao Conselho Galáctico.
* * *
A mente de Zee Prime navegou pela nova galáxia com um leve interesse nos incontáveis turbilhões de estrelas que pontilhavam o espaço. Ele nunca havia visto aquela galáxia antes. Será que um dia conseguiria ver todas? Eram tantas, cada uma com a sua carga de humanidade. Ainda que essa carga fosse, virtualmente, peso morto. Há tempos a verdadeira essência do homem habitava o espaço.
Mentes, não corpos! Os corpos imortais permeneciam nos planetas, em suspensão sobre os eons. Vez ou outra eles se erguiam para realizar atividades materiais, mas isto estava se tornando cada vez mais raro. Poucos novos indivíduos vinham se juntar à multidão incomensurável de humanos, mas o que importava? Havia pouco espaço no universo para novos indivíduos.
Zee Prime deixou seus devaneios para trás ao cruzar com os filamentos emaranhados de outra mente.
“Sou Zee Prime, e você?”
“Dee Sub Wun. E a sua galáxia, qual é?”
“Nós a chamamos apenas de Galáxia. E você?”
“Nós também. Todos os homens chamam as suas Galáxias de Galáxias, não é?”
“Verdade, já que todas as Galáxias são iguais.”
“Nem todas. Alguma em particular deu origem à raça humana. Isso a torna diferente.”
Zee Prime disse: “Em qual delas?”
“Não posso responder, mas o AC Universal deve saber.”
“Vamos perguntar? Estou curioso.”
A percepção de Zee Prime se expandiu até que as próprias Galáxias encolhessem e se transformassem em uma infinidade de pontos difusos a brilhar sobre um largo plano de fundo. Tantos bilhões de Galáxias, todas abrigando seus seres imortais, todas contando com o peso da inteligência em mentes que vagavam livremente pelo espaço. E ainda assim, nenhuma delas se afigurava singular o bastante para merecer o título de Galáxia original. Apesar das aparências, uma delas, em um passado muito distante, foi a única do universo a abrigar a espécie humana.
Zee Prime, imerso em curiosidade, chamou: “AC Universal! Em qual Galáxia nasceu o homem?”
O AC Universal ouviu, pois em cada mundo e através de todo o espaço, seus receptores faziam-se presentes. E cada receptor ligava-se a algum ponto desconhecido onde se assentava o AC Universal através do hiperespaço.
Zee Prime sabia de um único homem cujos pensamentos haviam penetrado no campo de percepção do AC Universal, e tudo o que ele viu foi um globo brilhante difícil de enxergar, com dois pés de comprimento.
“Como pode o AC Universal ser apenas isso?” Zee Prime perguntou.
“A maior parte dele permanece no hiperespaço, onde não é possível imaginar as suas proporções.”
Ninguém podia, pois a última vez em que alguém ajudou a construir um AC Universal jazia muito distante no tempo. Cada AC Universal planejava e construía seu sucessor, no qual toda a sua bagagem única de informações era inserida.
O AC Universal interrompeu os pensamentos de Zee Prime, não com palavras, mas com orientação. Sua mente foi guiada através do espesso oceano das Galáxias, e uma em particular expandiu-se e se abriu em estrelas.
Um pensamento lhe alcançou, infinitamente distante, infinitamente claro. “ESTA É A GALÁXIA ORIGINAL DO HOMEM.”
Ela não tinha nada de especial, era como tantas outras; Zee Prime ficou desapontado.
Dee Sub Wun, cuja mente acompanhara a outra, disse de súbito: “E alguma dessas é a estrela original do homem?”
O AC Universal disse: “A ESTRELA ORIGINAL DO HOMEM ENTROU EM COLAPSO. AGORA É UMA ANÃ BRANCA.”
“Os homens que lá viviam morreram?” perguntou Zee Prime, sem pensar.
“UM NOVO MUNDO FOI ERGUIDO PARA SEUS CORPOS HÁ TEMPO.”
“Sim, é claro.” disse Zee Prime. Sentiu uma distante sensação de perda tomar-lhe conta. Sua mente soltou-se da Galáxia do homem e perdeu-se entre os pontos pálidos e esfumaçados. Ele nunca mais queria vê-la.
Dee Sub Wun disse: “O que houve?”
“As estrelas estão morrendo. Aquela que serviu de berço à humanidade já está morta.”
“Todas devem morrer, não?”
“Sim. Mas quando toda a energia acabar, nossos corpos irão finalmente morrer, e você e eu partiremos junto com eles.”
“Vai levar bilhões de anos.”
“Não quero que isso aconteça nem em bilhões de anos. AC Universal, como a morte das estrelas pode ser evitada?”
Dee Sub Wun disse perplexo: “Você perguntou se há como reverter a direção da entropia!”
E o AC Universal respondeu: “AINDA NÃO HÁ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”
Os pensamentos de Zee Prime retornaram para sua Galáxia. Não dispensou mais atenção a Dee Sub Wun, cujo corpo poderia estar a trilhões de anos luz, ou na estrela vizinha do corpo de Zee Prime. Não importava.
Com tristeza, Zee Prime passou a coletar hidrogênio interestelar para construir uma pequena estrela para si. Se as estrelas devem morrer, ao menos algumas ainda podiam ser construídas.
* * *
O Homem pensou consigo mesmo, pois, de alguma forma, ele era apenas um. Consistia de trilhões, trilhões e trilhões de corpos muito antigos, cada um em seu lugar, descansando incorruptível e calmamente, sob os cuidados de autômatos perfeitos, igualmente incorruptíveis, enquanto as mentes de todos os corpos haviam escolhido fundir-se umas às outras, indistintamente.
“O Universo está morrendo.”
O Homem olhou as Galáxias opacas. As estrelas gigantes, esbanjadoras, há muito já não existiam. Desde o passado mais remoto, praticamente todas as estrelas consistiam-se em anãs brancas, lentamente esvaindo-se em direção a morte.
Novas estrelas foram construídas a partir da poeira interestelar, algumas por processo natural, outras pelo próprio Homem, e estas também já estavam em seus momentos finais. As Anãs brancas ainda podiam colidir-se e, das enormes forças resultantes, novas estrelas nascerem, mas apenas na proporção de uma nova estrela para cada mil anãs brancas destruídas, e estas também se apagariam um dia.
O Homem disse: “Cuidadosamente controlada pelo AC Cósmico, a energia que resta em todo o Universo ainda vai durar por um bilhão de anos.”
“Ainda assim, vai eventualmente acabar. Por mais que possa ser poupada, uma vez gasta, não há como recuperá-la. A entropia precisa aumentar ao seu máximo.”
“Pode a entropia ser revertida? Vamos perguntar ao AC Cósmico.”
O AC Cósmico cercava-os por todos os lados, mas não através do espaço. Nenhuma parte sua permanecia no espaço físico. Jazia no hiperespaço e era feito de algo que não era matéria nem energia. As definições sobre seu tamanho e natureza não faziam sentido em quaisquer termos compreensíveis pelo Homem.
“AC Cósmico,” disse o Homem, “… como é possível reverter a entropia?”
O AC Cósmico disse, “AINDA NÃO HÁ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”
O Homem disse: “Colete dados adicionais.”
O AC Cósmico disse: “EU O FAREI. TENHO FEITO ISSO POR CEM BILHÕES DE ANOS. MEUS PREDECESSORES E EU OUVIMOS ESTA PERGUNTA MUITAS VEZES, MAS OS DADOS QUE TENHO PERMANECEM INSUFICIENTES.”
“Haverá um dia,” disse o Homem “… em que os dados serão suficientes ou o problema é insolúvel em todas as circunstâncias concebíveis?”
O AC Cósmico disse: “NENHUM PROBLEMA É INSOLÚVEL EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS CONCEBÍVEIS.”
“Você vai continuar trabalhando nisso?”
“VOU.”
O Homem disse: “Nós iremos aguardar.”
* * *
As estrelas e as galáxias se apagaram e morreram, o espaço tornou-se negro após dez trilhões de anos de atividade.
Um a um, o Homem fundiu-se ao AC, cada corpo físico perdendo a sua identidade mental, acontecimento que era, de alguma forma, benéfico.
A última mente humana parou antes da fusão, olhando para o espaço vazio a não ser pelos restos de uma estrela negra e um punhado de matéria extremamente rarefeita, agitada aleatoriamente pelo calor que aos poucos se dissipava, em direção ao zero absoluto.
O Homem disse: “AC, este é o fim? Não há como reverter este caos? Não pode ser feito?”
O AC disse: “AINDA NÃO HÁ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”
A última mente humana uniu-se às outras e apenas o AC passou a existir, ainda assim, no hiperespaço.
* * *
A matéria e a energia se acabaram e, com elas, o tempo e o espaço. AC continuava a existir apenas em função da última pergunta que nunca havia sido respondida, desde a época em que um técnico de computação embriagado, há dez trilhões de anos, a fizera para um computador que guardava menos semelhanças com o AC do que o homem com o Homem.
Todas as outras questões haviam sido solucionadas, e até que a derradeira também o fosse, AC não poderia desprender sua consciência.
A coleta de dados havia chegado ao seu fim. Não havia mais nada para aprender. No entanto, os dados obtidos ainda precisavam ser cruzados e correlacionados de todas as maneiras possíveis.
Um intervalo imensurável foi gasto neste empreendimento. Finalmente, o AC descobriu como reverter a direção da entropia.
Não havia homem algum para quem o AC pudesse dar a resposta final. Mas não importava. A resposta, por definição, também tomaria conta disso. Por outro incontável período, o AC pensou na melhor maneira de agir. Cuidadosamente, ele organizou o programa.
A consciência do AC abarcou tudo o que um dia foi um Universo e tudo o que agora era o Caos. Passo a passo, isso precisava ser feito.
Então o AC disse: “FAÇA-SE A LUZ!”
E fez-se a luz…”
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O jardim secreto

No interior do Brasil de terras sem fim existia um vilarejo chamado Águas Calmas, neste pequeno fim de mundo, num casarão estilo colonial de paredes brancas e janelas altas, vidros coloridos, em meio a uma pequena fazenda perto duma chapada, que se estendia dando origem a uma grande serra, vivia uma jovem chamada Esther. A garota saia a caminhar pêlos campos floridos todos os dias depois das aula, andava displicente cheirando o perfume das flores, cortando caminho pelas montanhas até chegar em casa. Numa destas tardes furtivas entrou pôr uma trilha ainda desconhecida, caminhou pôr entre as árvores até chegar a uma clareira, que formava um jardim natural ornado pôr uma cachoeira que descia das pedras da chapada formando um lago de águas mornas e cristalina, protegida pela floresta, nadava nua todas as tardes, somente as orquídeas selvagens e o firmamento a contemplar a beleza ímpar da donzela de corpo esguio e pele tão alva como as nuvens do céu de Águas Calmas na primavera.
Numa destas visitas ao santuário, a menina se distraiu com as belezas e encantos da natureza e não percebeu o tempo passar, para seu azar, o pai chegara mais cedo do trabalho e logo notou a falta da filha, perguntara a tia Conceição sobre o paradeiro da garota, mas esta não sabia, se indignou pela falta da velha, mas logo a perdoou, ela era de sua total confiança, fora tia Conceição que o ajudara a cuidar da filha desde o seu nascimento, pois quando viera ao mundo, sua mãe partira desta. .Entretida na lida diária da casa a tia nunca dera falta de Esther e nem imaginava seus passeios, mas depois deste dia a vigilância foi redobrada e a partir de então as visitas ao jardim secreto se tornara cada vez mais raras e a vida de Esther cada vez mais triste e sem brilho, não conseguia bons desempenhos na escola, seu sorriso tornara-se triste e sem brilho, os olhos que outrora tinham o brilho do véu d’agua da cachoeira agora estava opaco, como uma noite sem luar, parecia-lhe faltar um pedaço, a tia não lhe largava do pé o dia inteiro, caminhava léguas todos os dias para leva-la e busca-la na escola. Esther só tinha liberdade quando a noite caia, e o pai e a tia dormiam exaustos depois do dia cansativo de trabalho.Numa noitequente de verão a garota aproveitou seus poucos momentos de liberdade, abriu as janelas de seu quarto afim de refrescar o ambiente, a luz do luar iluminou todo o recinto, os vidros coloridos das janelas desenharam figuras decorando as paredes com uma belezas de cores sutis, e enquanto as sombras brincavam com as luzes prateadas do luar, a própria Lua chamou Esther para perto da janela, então ela sentou-se no beiral e ficou mirando estrelas, cada um a com um brilho, um mistério diferente,os campos que ladeavam sua casa transformaram-se num manto prateado, no horizonte a floresta escondia seus segredos, e da janela de sua casa podia ouvir o som das águas da cachoeira, num canto mágico, como o canto da sereia que encanta o marinheiro, levando-o aos corais.Seus olhos tomaram novamente o brilho radiante das estrelas, seus cabelos o brilho do luar, uma força estranha dominou seu corpo e quando Esther deu pôr si já estava nua na banheira de águas mornas do jardim secreto, a lua e as estrelas, a chapada e as orquídeas selvagens velando seu banho. Antes dos primeiros raios de sol Esther estava de volta, deitada em sua cama ardendo em febre, sem saber direito se o que havia lhe acontecido era verdade ou pura alucinação. A brisa da manhã esfriou o quarto e Esther levantou-se tropega, para fechar as janelas antes de seu pai acordar.
Depois daquela noite não mais voltara a seu jardim e notara que aquele sangramento estranho que lhe ocorria todos os meses havia parado, ficou contente, assim não precisaria contar nada para seu pai ou para sua tia, só de pensar em tal possibilidade ruborizava, agradecia a Deus pôr estar curada, só não sabia de que, mas até promessa para Santa Luzia fizera, e uma graça havia alcançado.Sentia falta das águas confortantes da lagoa, mas não havia menor possibilidade de ir até lá, seu pai comprara uma casa no vilarejo, para que ficasse mais perto da escola, evitando que sua tia andasse tanto, além disso o pai acreditava que se estivesse em maior contato com as meninas de sua idade, Esther não seria tão calada e tímida, e teria mais tempo para se dedicar aos estudos, sua idéia fora logo frustrada, depois dos sucessivos estranhos acontecimentos:
Primeiro Esther começou a sentir muitos enjôos e tonturas, a tia disse com estranheza:
-Cruiz em credo fia, tá com maleita?- e lhe deu um chá de qualquer coisa para passar o mal, porém o mau não se foi e sua barriga estava um pouco dilatada, então a tia disse:
-É bicha, um óio de rinsino , umas erma de Santa Maria e ôce bota essa bicha pra fora, daí adeus barrigão- e a barriga da moça continuava a crescer gerando chacotas e fofocas no lugarejo. A tia, pobre velhina curandeira acalmava a fúria do pai dizendo:
-Um copo de maztruz com leite toda manhã , que logo logo vai tá curada, porque isso ai é uma ameba,... e das grande!- mas a barriga foi crescendo e os comentários crescendo ainda mais que a barriga. Tia Conceição contava histórias antigas, estranhas e sem sentido, de uma índia que engravidara numa lagoa, Esther não tinha nada a dizer, e só de cogitar o assunto ficava com as bochechas rubras como o entardecer no oriente, não tinha menor idéia do que estavam falando, só sabia que não havia feito nada de errado, era inocente.
-Eu te amaldiçôo- disse o pai revoltado- e amaldiçôo o bastardo que carregas na barriga, também amaldiçôo o pai desta cria, que veio para colocar nossa família em vergonha! -Falando com ódio e amargura em suas palavras, Esther encafifada com aquela gravidez misteriosa, voltou para casa da fazenda acompanhada de sua tia, se escondeu de tudo e de todos, trancou portas, janelas e relações externas, seu único vínculo com o mundo fora através da velha tia, seu pai permaneceu no vilarejo, envergonhado começou a beber compulsivamente e antes do neto nascer, já havia perdido tudo que possuia, só lhe restando a fazenda que deixara de herança, e no dia em que Esther sentira as dores do parto, seu pai falecera após um coma alcoólico, morrera na escadaria da igreja sob o sol do meio dia, o reverendo fora acorda-lo para aplicar mais um sermão quando notara que estava morto, então encomendou-lhe a alma dando a extrema unção, pegou sua bicicleta e fora avisar a família. Chegando lá falou com a velha tia, mas esta preferiu não contar nada a sobrinha, devido a seu estado. O padre achou estranho todas as portas e janelas do casarão estarem fechadas numa tarde quente, mas Esther só permitia abri-las nas noites de lua nova.
A garot de a luz a seu filho enquanto na cidade seu pai estava sendo velado, a velha tia não podia ajuda-la, era tradição de sua tribo parir sozinha, mas a garota não era indígena e não tinha idéia de como fazer, a noite foi passando, a lua atingindo seu ponto mais alto, então finalmente o bebê veio a luz, Esther o abraçou e desmaiou exausta, não conseguindo cortar o cordão umbilical, quando voltou do desmaio, estava muito fraca, havia perdido sangue , pegou uma tesoura de pano mas não consegui fazer o que era preciso, pereceu com a tesoura na mão.
Ninguém no vilarejo ficou sabendo do destino de Esther, nem tampouco de seu rebento, só sabiam da tia velha que era tida como maluca, caduca e afins, pois se isolara de todos, e só abria as janelas nas noites quentes de verão ou primavera, sempre na lua nova. As línguas ferinas da cidadezinha diziam que a menina misteriosa fora mandada pela tia para a cidade grande, onde não faria vergonha a família , também havia a corrente que pensava que a garota havia sido trancada no porão pela velha louca, pois também enlouquecera depois de dar a luz a uma criatura horrenda que assombra as fazendas adjacentes, o assunto se transformou em lenda na região, mas ninguém nunca se atrevera a perguntar a velha depois das missas dominicais, nem tiveram coragem de visita-la em sua casa.O menino Aparecido, ficou aos cuidados da tia que agora estava cegueta, mas sua mãe nunca saira do seu lado, assim ele cresceu, e todas dúvidas que tinha sobre a vida perguntava a sua mãe, e toda que esta sabia, respondia. A tia mal enxergava um palmo a frente do nariz, e além da idade avançada tinha o garoto como meio doido, pôr conversar com a mãe morta, mas ela mesma também o fazia, de uma maneira diferente, confundindo a realidade, só sabia que nos momentos mais difíceis se flagrava tomando conselhos de sua sobrinha, e esta sempre tinha um palavra de alento para a tia.
Logo a energia elétrica chegou na roça, então a tv passou a ser a companheira de Aparecido na maioria de seu tempo, era nela que via tudo que nunca poderia conhecer pessoalmente, pois seu mundo era a casa na roça, o espirito da mãe que o acompanhava, a tia e agora a televisão. Isso o transformou num adolescente introspectivo e solitário.Quando a época chegou, os programas que via na tv lhe trouxeram dúvidas e curiosidade, mas sua mãe em nada pode ajuda-lo, este seria um problema que teria que resolver sozinho, e a medida que Aparecido perdia a inocência, sua mãe entrava num estado de catatonia, o deixando ainda mais solitário.Quando era mais novo sempre teve a companhia e o conselho da mãe, agora estava se sentindo cada vez mais sozinho e necessitando de um amigo, mas quem iria querer a amizade de um rapaz de dezesseis, grudado a mãe catatônica pelo cordão umbilical, afinal ele sabia que era uma aberração da natureza.
Através de um programa vespertino de tv educativa, descobriu uma biblioteca pôr correspondência, e um clube do livro, então abandonou sua tão antiga companheira (tv) e se entregou a nova modalidade de entretenimento, conheceu o serviço de correios, criou um grande círculo de amigos pôr correspondência, e através ds cartas teve amigos de todo o Brasil e alguns estrangeiros. Sempre dizia ser como um personagem de algum livro ou da tv, mas notou que uma amizade verdadeira não poderia ser baseada em mentiras, então resolveu mudar o teor de seu discurso, passando a falar(ou melhor , escrever) sobre as belezas de sua região. Dizia como era belo o nascer do sol, ou o entardecer pôr detrás dos montes, os pássaros cantando nas árvores ao amanhecer, ou a lua, que em cada quarto exibe um brilho diferente, descreveu o jardim secreto que sua mãe lhe contara, e pôr falar destas coisas bonitas, despertou a curiosidade em algumas pessoas, então começou a receber propostas de visitas, ficando assustado com a impossibilidade de viajar ou receber pessoas em sua casa, foi obrigado a inventar uma mudança de estado, fez novos amigos pôr correspondência, mas desta vez adotando uma caixa postal, assim não correria riscos de surpresas desagradáveis, lentamente fora abandonando o hábito de escrever, mas uma garota resistiu a todas as cartas não respondidas e insistiu, insistiu muito, e uma das missivas da moça Aparecido sentiu um toque de sinceridade e isolamento, se identificou com este lado da personalidade da garota e saiu de seu silencio postal.Depois de algumas confissões mútuas, a garota contou ser deficiente visual, e ele entedeu porque as cartas eram escritas a máquina. Agora tinha duas amigas a biblioteca e Luzia, não vivia mais na completa solidão e tinha um motivo para continuar sua caminhada pela vida.Luzia fazia parte de um núcleo de apoio ao deficiente visual, e numa das cartas , citou a possibilidade de uma excursão a Águas Calmas afim de conhece-lo pessoalmente, Aparecido topou sem fazer milongas, e foi logo planejando tudo para a chegada de seus novos amigos.Seu Manoel, o velho da venda era muito bisbilhotero , e estranhou a compra de D. Conceição, comentou com sua esposa:
-Minha véia, agora a muié pirou de vez, pra que que ela que tanta coisa? – sua mulher era uma velha banguela e rabujenta de cabelos longos, grisalhos e engordurados, sempre tinha uma aureola de suor manchando a blusa debaixo dos braços, os seios enormes caiam pôr sobre a enorme barriga e a única coisa que tinha a fazer na vida era cuidar da vida alheia, seu Manoel era calvo e tinha os dedos e os dentes amarelados do cigarro de palha, os dois juntos pareciam personagens de filme de terror b , não demorou muito e todo o vilarejo sabia da compra de dona Conceição, e novamente fora motivo de comentários, que aumentaram ainda mais quando uma van lotada de jovens cegos chegou a cidade, e o motorista pediu informações sobre como chegar a fazenda, mas nada disto importa em nossa história , pois finalmente o dia esperado chegou e Aparecido pode ver como Luzia era linda. Tinha um corpo muito bem torneado, pele morena jambo, cabelos negros como os de sua mãe, traços delicados como a pétala de uma orquídea, e nos olhos negros um mistério, sempre escondido pôr trás dos óculos escuros, detalhe que realçava ainda mais seu charme, sua voz era doce como o mel, e uma forma calma e compassada ao falar, lhe dava o carisma que conquistou o rapaz em suas cartas e ainda mais no instante em que ele a viu pessoalmente , em toda a sua aura não havia um só traço de amargura. Luzia deslizou suas mãos macias pelo rosto do rapaz e disse:
-Voce guarda um segredo maior que meu mistério, mas quando quiseres, podes me contar, eu entenderei. – Aparecido trajava um manto negro e bem longo, para que o motorista da ¨ van ¨ não pudesse ver sua mãe escondida debaixo, e ao ouvir aquelas palavras suar pernas tremeram como vara verde ao vento, então gaguejou alguma pinóia e superou o susto, depois disto cuidou ainda mais de manter distância do motorista..
O evento fora um sucesso, e o melhor dia de sua vida terminou com a promessa que haveriam outros, Luzia fora a última a se despedir, passou as mãos no rosto de Aparecido, carinhosamente beijou-lhe a face e disse:
-Nunca esquecerei seu rosto, você é uma pessoa muito diferente e especial, eu posso ver a luz da sua aura na escuridão e é a primeira vez que isso me acontece. – Aparecido sorriu timidamente dizendo até logo, com um nó na garganta, segurando o choro, não conseguiu dizer mais nada, Luzia entrou e o carro lentamente desapareceu em meio ao pó da estrada de terra.
Depois de tantos anos de solidão, ele tinha um novo grupo de amigos, que nunca descobririam seu segredo, e cada vez mais sentia desejo de viver, só para ver Luzia outra vez, escrevia com frequência para sua musa e para ela dedicava poesias, prosas e versos, não sabia quem lia as cartas, mas isso já não importava, imaginava uma amiga íntima lendo em segredo, imaginava as expressões em sua face, se imaginava falando aos ouvidos, declamando poesias, não conseguia conter a ansiedade de vê-la novamente. Outras visitas se sucederam, e com aquele grupo o jovem teve coragem para conhecer o mundo, com sua musa fora conhecer o mar, e pôr onde passavam descrevia tudo o que via, dizia como é lindo a imensidão azul do alto da serra, definindo como um horizonte sem fim, o sol se pondo a beira mar pintando o azul de alaranjado, enquanto os raios refletem na água, criando uma pintura magistral. Luzia ouviu o barulho das ondas quebrando nas pedras num eterno vai e vem , sentiu a brisa em seu rosto e o sal em seus lábio, chorou, então Aparecido sentindo-se triste pôr vê-la derramando lágrimas perguntou-lhe:
-Porque esta chorando?, É pôr não poder ver as coisas belas que descrevo-lhe?
-Não – disse ela- é pôr poder sentir, pôr poder estar aqui e viver este momento de felicidade diante desta força eterna.- depois desta viagem, Luzia pode passar o fim de semana na fazenda sem o grupo que os acompanha e finalmente ficar a sós com Aparecido.
Tarde da noite, Aparecido contemplava o firmamento da varanda de sua casa, Luzia chegou lentamente, e delicadamente colocou suas mãos sobre os ombros dele e lhe pediu:
-Me descreva o que esta vendo meu amor.- apontando para todas as direções, num movimento circular. Aparecido fechou os olhos e começou a falar:
-Vejo o céu azul escuro cobrindo o mundo todo como um abraço de Deus, as estrelas brilhando no manto azul são como centelhas de amor nos chamando para junto delas, a lua é como se fosse nossa mãe dizendo que ainda não estamos prontos, porque somos muito jovens.Então Luzia pergunta pelo jardim secreto, de que tanto falava nas cartas, o rapaz pega em sua mão e instintivamente segue rumo ao lugar desconhecido até mesmo para ele. A lua iluminando os pastos num manto prateado, Aparecido olhou para sua mãe , que se escondia debaixo do manto negro, ela estranhamente havia deixado seu estado de catatonia e lhe sorriu, aprovando sua atitude com um meneio de cabeça, caminharam rumo a floresta sob a luz do luar, o rapaz sentia um misto de felicidade e ansiedade, quando chegaram a floresta, Aparecido não sabia que direção tomar, então sua mãe o pegou pela mão os guiando até o jardim. Tudo estava como a vinte anos atras, então se sentaram numa pedra a beira da lagoa, Luzia sentiu o cheiro das flores e a brisa da noite dominando seu corpo, se despiu completamente e foi em direção a água, sentindo uma atração incontrolável, Aparecido fez o mesmo, levando sua mãe presa ao cordão umbilical.
-Me diga o que estas vendo Aparecido.
-Estou vendo uma cachoeira de beleza tão misteriosa como a sua, a lua iluminando toda a chapada, enquanto as orquídeas multicores nos vela.
-Me abrace aparecido! Pediu em tom de súplica, então ele a abraçou como se fossem tornar uma só pessoa.
-Para onde foi seu segredo?- perguntou surpresa, pois a sensação de nunca estarem a sós desapareceu.
-Meu segredo reencontrou seu lugar aqui no jardim secreto- ficaram em silêncio pôr alguns instantes.
-Pai , eu a trouxe de volta. – falou Aparecido, a moça correu os olhos pôr todos os lados e perguntou:
-Com quem falas, só vejo a lua, as estrelas , a cachoeira e o lago, a floresta e as orquídeas a nos velar?

O Poeta vagabundo(e seu fiel companheiro)

Aquela escada que de tantos degraus parece que não se sabe onde vai dar , a ponta da cruz do alto da igreja, a única coisa que se vê de lá do meio da escada, o fim de tarde caminhando de mansinho em nuvens avermelhadas de imensidão, a brisa fresca abrandando o calor que abafa a moral debaixo de roupas e costumes. e à nave todo luxo e cuidados, somos filhos bastardos de hum pai rico, pelo menos somos desejosos de ser, e aos domingos pagamos o teste de DNA. e cobramos do pai oque não conseguimos pelo nosso trabalho, e agradecemos aquilo que conseguimos com a ajuda Dele;
E ele rígido que é , lhe cobra as regras de sua cartilha, e você mau filho, só quer saber de decorar e passar na prova pra um dia poder voltar pro conforto da casa do pai, nem Lhe pergunta quem escreveu o livro, só desobedece e pede perdão, sem nem mesmo questionar se realmente foi uma falha passiva de punição, daquelas que refletirá na vida de um terceiro, ou se foi um simples não cumprimento de alguma norma equivocada pelo tempo, o importante é o perdão, mas de que vale o perdão se repetimos os erros e pagamos com o peso em nossas consciências sem tomarmos consciência.
Sempre reprovamos em filosofia, mas também, com esse método europeu obsoleto e esses péssimos professores, pôr isso essas roupas quentes aqui nesse calorão, mas eles dizem que para visitar a casa do pai tem que ir com a melhor roupa, cobrindo todo o corpo, escondendo o desejo de ser vivo, de ser bicho, de obedecer a cadeia alimentar, de ser um mero filho bastardo arrotando arrogância e superioridade por se achar filho predileto do superior.
Mas quase todos meus irmãos querem a herança eterna, e esquecem que o brilho é eterno mas nossos sentidos se dissiparão com o tempo, esquecem o bom que o pai oferece, e não perguntam se quem escreveu o manual sabia oque são os sentidos, ou se estavam mais dispostos a negar o instinto da animalidade no bicho humano para encontrar algo que justifique a superioridade, encontrando somente a arrogância auto destrutiva.
Saberiam aqueles pioneiros do pensamento que somos uma espécie animal que sente mais do que pensa? Então eu perdôo Vossa falha, meu velho pai reacionário, pois quando escreveram suas primeiras leis, usaram pedras e hoje estamos na era digital, você (me perdoe a informalidade senhor, é que cansei de Vossa, Sua e afins e afinal somos íntimos desde antes de eu nascer)então...você...até tentou remediar as coisas com as boas novas do cabeludo, mas não entenderam direito, ele era muito poético, e poeta que se preze tem que sofrer a vida toda, morrer pobre pra ser reconhecido e vender livros e ficar famoso depois de morto, e não deu outra, fizeram riquezas com o pobre moço.
Mudaram o calendário em sua honra e justificaram guerras e opressão e muitas outras coisas com seu nome, coisas que esse cabeludo de enorme caráter jamais faria, mas como o pobre moço trazia consigo a tradição oral do povo de sua classe social (tradição esta que tanto faz bem a memória) , não escreveu oque pensou, e como cada um que conta um conto aumenta um ponto(já dizia minha vovó), o filho poeta vagabundo que também é pai, foi o único que curtiu as boas novas às últimas consequências, quando o mataram, também mataram toda a igualdade e liberdade que seu pensamento poderia oferecer, então adaptaram sua filosofia com a velha carta de pedra do pai, e poucas coisas realmente importantes mudaram depois da vinda do bom poeta vagabundo.
E mesmo tanto tempo depois de sua vinda, a palavra do paí rígido ainda é mais forte que a Sua, e a rigidez do velho é que esta presente em todos os lugares, o velho pai continua a vigiar seus filhos e sabe onde este falhou no cumprimento de suas regras, e esta sempre pronto a puni-los; conhecedor de seus filhos, lhes conhece até os pensamentos e pode acabar com o mundo em tormentas e tempestades, como numa onda gigante que varre o pecado do mundo, para paz voltar sobre a face de seu planeta, que fora construído em sete dias.
Confesso, filho bastardo que sou, não entendo meu pai, as vezes me parece incoerente, pois em seus dez mandamentos esta “ não cobiçara a mulher do próximo, esqueceu de dizer que é quando o próximo estiver próximo e com isso também deu total liberdade as mulheres cobiçarem os homens das próximas, sem qualquer restrição e isso da cada confusão, talvez pôr isso o mundo seja assim, tão desequilibrado, e depois papai rico fica bravinho, manda terremoto , político, Tsunami, , advogado, erupção vulcânica, capitalistas, furacões, papai quando se espalha, ninguém junta, quebra tudo e manda os outros arrumarem a bagunça, e a bagunça fica uma eterna arrumação.
Sempre gostei muito desta igreja, é um belo espaço para reflexão, um lugar calmo, tranquilo, com boa arquitetura, admirável até, levando-se em conta a classe das pessoas que frequentam, poucos entrarão mesmo que uma só vez em toda vida numa casa onde há tão cuidadoso trabalho arquitetônico, quadros e esculturas, e peças em oiro e plata, e mesas em mármore e escadarias em granito, e grandes janelas e um sino bem grande no alto da nave, que quando toca avisa os candidatos a filho do Senhor que é hora de prestar as provas, e cear pão e vinho em honra a um dos poucos homens que honrou sua palavra e fez dela seu modo de vida, ainda que o livro que ele não escreveu seja o mais editado e vendido, e sua memória a mais louvada do planeta, nada disso fez sua bela filosofia libertar os corações e as mentes de seus irmãos.
Muito pelo contrário, sua idéia libertadora se transformou em doutrina aprisionadora, pois “olhai os lírios do campo, eles não tecem nem florem, mas nem Salomão com sua riqueza, se vestiu como ele”(não sei bem se a frase é exatamente assim, mas as testemunhas já morreram...), somente esta pequena frase mostra como foi corrompida a idéia do poeta, pois o lírio do campo só trabalha para sua existência contemplativa e nem um rei se veste como ele, sua beleza é estar nú, e sentir o céu e o sol e a chuva e o vento, ver o tempo passar, enfim, viver.
Acredito que se se reconhecer parte deste todo foi a grande mensagem do cabeludo, pena que até hoje oque mais chama a atenção da humanidade são aquelas pinturas européias renascentistas; Os quadros são lindos, um belo homem branco, de cabelos castanhos claros, lisos e de olhos azuis, com sua mãe branca, com mãos de quem nunca trabalhou na vida,... ótimas pinturas, grandes pintores, eu os parabenizo pela genialidade, e sobretudo pela criatividade, pois ainda quero saber como habitantes pobres do oriente médio, oriundo de cidades incrustadas no deserto podem ser tão pálidos? Vide os atuais habitantes! Em alguma passagem da bíblia deve haver uma menção ao filtro solar fator 250 que usavam antes de peregrinar debaixo do sol escaldante daquelas paragens ou os pintores renascentistas ainda não conheciam etnologia, nem antropologia, nem uma fotografia da santa ceia, ainda que amarelada pelos mil e quinhentos anos passados, então os modelos usados para as pinturas eram os conterrâneos dos pintores (brancos, louros, de olhos claros, como os europeus).

Mas para os que acreditam em quimeras, parto da doutrina cristã de que o Filho também é o Pai, onipresente, onipotente, que sabe de tudo do passado, presente e futuro, é como filmar com roteiro, no entanto o pobre Judas, que mereceu o Oscar de melhor ator coadjuvante até hoje é usado como sinônimo de traição, é simbolicamente amarrado, arrastado, maiado, e por fim enforcado todo Sábado Aleluia nas portas dos bares e bombonieres das cidades,mas onde esta a traição se o Próprio que avisou seus discípulos que dentre eles haveria um covarde que O negaria três vezes e um cagueta, onde está a traição para quem sabe de seu futuro, cada um tinha seu personagem a desempenhar na ‘tragédia’, ou torna Tudo incoerente, e mesmo assim Judas não aguentando o peso do seu papel, tirou a própria vida.
Ele não queria um punhado de moedas, oque ele não queria era virar a outra face para os romanos, ele não queria o reino dos céus, foi o que mais acreditou que poderia haver uma insurgência, ele queria um revolucionário capaz de expulsar o dominador, de libertar seu povo, ele acreditava que era o momento dos romanos saberem quem era o tal profeta que dizia ser o Rei dos reis, o próprio Deus encarnado na terra, qual foi a surpresa quando o poeta só usou do poder de suas palavras e deixou cumprir a lei da força, então Judas ficou sabendo qual fora seu papel, desiludido e atordido todos sabem como termina essa história, mas ainda assim sua figura tornou-se a referência do que a religião que se criou sobre essa saga representa para a filosofia do jovem poeta.
Judas não foi o traídor, e sim aquele que ficou com o papel mais difícil da peça, e até hoje além de não colher os louros da fama, ainda caminha entre o ostracismo e as críticas ferrenhas sobre sua atuação, porém foi o único discípulo que tentando reparar seu erro padeceu junto com seu mestre, pois percebeu que a maior insurgência surgiria silenciosa e sem violência. Que coisa triste, neste momento contrario Nietzsche(outro grande libertador), pois digo que não houve um só cristão, e este foi crucificado, houveram dois, o outro assim como Sócrates, tirou sua própria vida em nome daquilo que acreditou.
Ainda hoje os sinos tocam, mas por quem os sinos tocam e todos se reunem num lugar fechado e luxuoso como este se em todo lugar onde houver duas ou mais pessoas falando D’ele, mesmo que embriagado de vinho, Ele lá estará? Qual o poder que faz com que as pessoas esqueçam oque realmente importa e se importem com oque não tem a menor importância?
Me parece um tanto incoerente um filósofo que só queria devolver a vida plena a quem quisesse, negar a magia as bruxas, pajés, xamãs, curandeiros e etc e a mesma magia, agora metamorfoseada em milagre ser atribuída aos “pregadores oficiais de suas palavras”, sendo estes os possuidores da verdade absoluta e únicos autorizados a certificar, patentear, e dar a pessoas comuns status de homem além dos homens, como estes das imagens em toda a volta desta igreja, ainda quero entender quando a teoria libertadora se transformou em doutrina massificadora.
Um coroinha aparece do fundo da nave, carrega com ele uma vela acesa, grande e grossa e com ela vai passando pelos (andores) acendendo os diversos castiçais, passa por mim com aquele ar solene, de quem participa de um ritual, e me cumprimenta com um breve meneio de cabeça, eu penso: será que ele sabe o que esta fazendo, ou repete o ritual com a obediência cega de um cão adestrado.
A noite vem de mansinho,da para ver pela grande porta aberta, como pano de fundo a imensidão do céu azulado, só um restinho de luz do sol faz um alaranjado no distante horizonte, e as primeiras estrelas da noite aparecem diante da minha vista enquanto caminho em direção a porta, o cheiro das velas queimando cavalga o ar fresco do começo da noite, sento na escadaria e vejo o desfile suave dos filhos da infidelidade, resignando-se por serem bastardos, então entendo porque as últimas palavras do poeta foram “perdoai-vos, eles não sabem oque fazem”



Elcyr Carrera.
15/12/2005
revisado em 19/04/2009



Obs: Sujeito a alterações até o fim do expediente.

Luz p'ro meu caminho

atravessei o deserto do mar
a procura de porto seguro
me perdi, fui procurar
uma estrela guia que me mostrasse
uma direção, um lugar seguro
e bom para ficar

o meio do caminho
a virtude, o vício
a cruz, a espada
tormentas, tempestades
ilhas de curiosidades

calmaria vem me acalmar
vento sereno, vem me conduzir
vem tu, Sereno, p'ra me orientar
luz a me guiar, no escuro azul do mar

por não conhecer, naveguei por mares de ilusão
naufraguei no coral da desobediência
vi lá longe a estrela da razão

e agora navego, sigo uma estrela
um ponto claro lá no norte

um guia a me nortear

Manifesto ao silêncio

quatro horas da manhã
ouço o barulho da madrugada
na escuridão do meu quarto

não consigo dormir
e na imensidão do vazio
o som dos trens de carga
que levam o gado pro trabalho
me faz lembrar que estou no subúrbio

dia a dia adia meus planos
o futuro é tão incerto
oque hoje é floresta
amanhã será deserto

os cachorros vadios iniciam o latido coletivo
mais uma gata esta no cio
firmas anunciam os primeiros sinais de um novo dia
que pros pobres operários tanto faz
os dias são sempre iguais

porcas, arruelas e engrenagens
peças de um sistema escravagista e opressor
que agride com mãos de ferro
invisíveis e impiedosas

limitam a liberdade
transformando tudo em atitudes pré-determinadas
pelas revistas, filmes e programas de tv

criadores de conceitos, padrões e modas
fazendo girar a engrenagem
da maquina gigante e a prova de fuga